Minha filha mais nova até música cantava ao 18 meses... mas o mais velho nessa idade falava só umas 15-20 palavras. Quase morri de ansiedade, achando que ele tinha algum problema grave. Pesquisei muito e até questionário de autismo preenchi. Eu já lia muitos livros pra ele, cantava músicas, então comecei a desenhar placas com imagens de objetos pra ficar repetindo diversas vezes o nome... Mais uns meses e ele de repente falava tudo. Não cheguei a procurar ajuda especializada.
A variabilidade no desenvolvimento da fala é enorme. Existem várias tabelas que listam as capacidades que a criança deve ter adquirido em cada idade, mas no caso da fala especialmente, elas podem confundir mais do que ajudar. Mais do que nos preocupar se a criança está falando 150, 200 palavras aos dois anos, devemos estar atentos aos possíveis sinais de alerta.
E mais... Fala e linguagem são coisas diferentes. Fala é o ato de se expressar através das palavras, enquanto linguagem inclui todas as formas de se expressar, seja com palavras, gestos, expressões faciais... e de captar as informações que façam sentido. Assim, para uma boa linguagem, além de falar adequadamente é importante ouvir bem, enxergar e ter a inteligência necessária para se comunicar e se exprimir, seja através da fala ou não.
OBS:
Aos 2 anos o vocabulário expressivo mínimo é de 50 palavras com combinações de 2-3 palavras. Metade das crianças com atraso de fala aos 24-30 meses podem apresentar atraso severo entre 3-4 anos.
Um estudo realizado pela University of Western Australia, publicado na revista científica Pediatrics, revelou que crianças com defasagem no vocabulário aos 2 anos não têm riscos de ter problemas emocionais ou de comportamento mais tarde.
Situações capazes de provocar um atraso na linguagem:
São mais de 50 causas possíveis. As principais:
- Problemas da respiratórios (infecções, respiração bucal) e de audição (infecções do ouvido no período de aquisição da fala ou surdez - o teste de triagem auditiva, teste da orelhinha, é gratuito e obrigatório desde 2010)
- Problemas motores - como freio de língua curto
- Problemas psicológicos - como carência afetiva e insegurança (crianças emocionalmente imaturas podem não aprender a falar por temer as relações comunicativas, ou talvez, pela dificuldade em encontrar as palavras para expressar seus sentimentos)
- Transtornos psiquiátricos
- Pouca estimulação das crianças pelos pais e demais adultos que cuidam (não só o abandono, mas também a superproteção - o excesso de cuidados com a criança também dificultam a aquisição da linguagem, já que os pais tendem a tentar adivinhar o que ela quer, respondendo prontamente a um simples gesto indicativo)
- Transtornos neurológicos - autismo e alterações neurológicas que afetem a cognição (aprendizado, inteligência, memória)
Alguns tipos de atraso da fala:
Atraso Simples de Linguagem
Quando a criança demora a falar ou mantém padrão de linguagem compatível com crianças mais novas, devido a um fator normalmente ambiental (psicológico ou pouco estímulo) ou auditivo/respiratório. Há boa compreensão do que é dito. Causa ansiedade na criança pela dificuldade em se expressar (pode ocasionar irritabilidade, choro fácil) e dificulta o amadurecimento e desenvolvimento de relações interpessoais. Pode ou não atrapalhar o desenvolvimento da leitura e interpretação de textos. Tende a evoluir com melhora, normalmente com ajuda especializada.
São características:
• Uso de frases simples, mas sem alteração na ordem das palavras
• Vocabulário reduzido por falta de experiência
• Trocas na fala
• Boa compreensão
Distúrbio Específico de Linguagem (DEL)
Dificuldade em adquirir e desenvolver a linguagem sem causa aparente. Ocorre na ausência de distúrbio mental, físico, sensorial, emocional e fatores ambientais prejudiciais. A criança brinca, interage normalmente, não apresentando alteração no desenvolvimento global. A comunicação não-verbal (mímica facial e gestos) costuma estar intacta.
Trata-se de distúrbio na organização da arquitetura cerebral para o processamento de informações linguísticas. Presente em 3 a 10% da população, acometendo mais meninos que meninas. 90% dessas crianças apresentarão algum tipo de problema com a leitura.
Há grandes variações, de forma que a criança pode apresentar:
• Fala basicamente com monossílabos (pouca memória para uma seqüência de sons)
• Dificuldade na produção dos fonemas
• Frases desestruturadas e/ou construídas na ordem inversa
• Vocabulário reduzido
• Trocas na fala
Atraso Global da Linguagem
A criança demora a falar e há dificuldade na compreensão. Alterações comportamentais estão presentes, bem como desinteresse, falta de curiosidade, baixa interação social. É o caso do Autismo, Asperger, síndrome do déficit de atenção e hiperatividade, paralisia cerebral, etc.
Quando procurar especialista - OS SINAIS DE ALERTA:
Em qualquer idade:
- Crianças que não reagem aos sons ou que não balbuciam ou produzem sons com com a voz
Entre 1 e 2 anos de idade:
- Dificuldade de compreender frases ou solicitações verbais
- Não tenta imitar sons ou palavras
- Não usa gestos simbólicos (ex: adeus)
- Não aponta objetos
- Não entende instruções simples
Após os 2 anos:
- Não produz palavras espontaneamente, não combina palavras
- Não imita palavras ou ações
- Repete palavras sem um bom sentido para a comunicação
- Tom de voz anormal ou anasalado
- Não compreende a função dos objetos (ex: telefone, escova, etc)
Como estimular a fala:
- Fale com o bebê, aponte os objetos, anuncie o que vai fazer
- Use vários tons de voz, de alegria, surpresa, etc
- Cante músicas
- Conte histórias e poesias
"Uma pesquisa realizada na Universidade de Chicago (EUA) provou que ações não-verbais podem ser tão importantes quanto o bate-papo para melhorar esse aprendizado. Por exemplo, o ato de apontar para um livro enquanto se diz “a mamãe vai pegar um livro” facilita a memorização dessa palavra."
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